QUARTO CONGRESSO DA III INTERNACIONAL (novembro de 1922)
1. Durante e depois da guerra, se desenvolveu entre os povos coloniais e semicoloniais, um movimento de rebelião contra o poder do capital mundial, movimento que fez grandes progressos. A penetração intensa e a colonização das regiões habitadas por raças negras coloca o último grande problema do qual depende o desenvolvimento futuro do capitalismo. O capitalismo francês admite claramente que seu imperialismo, logo após a guerra, só poderá manter-se mediante a criação de um império franco-africano, unido pela rodovia transsahariana. Os financistas maníacos dos EUA, que exploram em seu território 12 milhões de negros, se dedica agora a tarefa de penetrar pacificamente na África. As medidas extremas adotadas para sufocar a greve do Rrand mostram como a Inglaterra teme a ameaça as suas posições na África. Assim como no Pacífico o perigo de outra guerra mundial tem aumentado devido a competição das potências imperialistas, assim também a África aparece como o objeto de suas rivalidades. Além do mais, a guerra, a revolução russa, os grandes movimentos protagonizados pelos nacionalistas da Ásia e os muçulmanos contra o imperialismo, têm despertado a consciência de milhões de negros oprimidos pelos capitalistas, reduzidos, a séculos, a uma situação de inferioridade, não somente na África, mas também até mais nos EUA.
2. A história reservou aos negros dos EUA um papel importante na libertação de toda a raça africana. Há trezentos anos os negros norte-americanos foram arrancados de seu país natal, a África, e arrastados para a América onde tem sido objeto dos mais abjetos tratamentos e vendidos como escravos. Faz 250 anos, que trabalham sob o chicote dos proprietários norte-americanos. São eles que desmataram os bosques, construíram estradas, plantaram algodão, colocaram trilhos nas estradas de ferro e mantiveram a aristocracia confortável. Sua recompensa foi a miséria, a ignorância, a degradação. O negro não foi um escravo dócil, recorreu a rebelião, a insurreição, a fuga, tudo para recuperar sua liberdade. Mas seus levantes foram reprimidos com sangue. Através da tortura, foi obrigado a submeter-se. A imprensa burguesa e a religião se associaram para justificar sua escravidão. Quando a escravidão começou a competir com o trabalho assalariado e se transformou em obstáculo para o desenvolvimento da América capitalista, teve que desaparecer. A guerra da secessão, empreendida não para libertar os negros, mas para manter a supremacia industrial dos capitalistas nortistas, colocou o negro numa posição de ter que escolher entre a escravidão do sul e o trabalho assalariado no norte. A carne, o sangue, as lágrimas do negro “liberto” contribuíram para o estabelecimento do capitalismo norte-americano e quando, transformado em potência mundial, os EUA foram arrastados para a guerra mundial, o negro norte-americano foi declarado em igualdade de condições com o branco para matar e deixar-se matar pela democracia. Quatrocentos mil trabalhadores negros foram engajados nas tropas norte-americanas, onde formaram o regimento “Jim Crow” (Zé Urubu). Recém saídos das fogueiras da guerra, os soldados negros, uma vez em sua pátria, foram perseguidos, linchados, assassinados, privados de toda liberdade ou marginalizados. Lutaram, mas para afirmar sua personalidade, pagaram muito caro. Foram mais perseguidos ainda do que durante a guerra para que aprendessem o “seu lugar”. A grande participação dos negros na indústria pós-guerra, o espírito de rebelião que neles foi despertado pelas brutalidades de que são vítimas, coloca os negros da América e, sobretudo, os da América do norte, na vanguarda da luta da África contra a opressão.
3. A Internacional Comunista observa com satisfação que os operários negros explorados resistem aos ataques dos exploradores, pois o inimigo da raça negra é também dos trabalhadores brancos. Este inimigo é o capitalismo, o imperialismo. A luta internacional da raça negra é uma luta contra o capitalismo e o imperialismo. Com base nesta luta deve organizar-se o movimento negro: na América, como centro de cultura negro e centro da cristalização dos protestos dos negros; na África, como reserva de mão de obra para o desenvolvimento do capitalismo; na América Central (Costa Rica, Guatemala, Colômbia, Nicarágua e as demais repúblicas “independentes” onde predomina o imperialismo norte-americano), em Porto Rico, no Haití, em San Domingo e nas demais ilhas do Caribe, onde os maus tratos infligidos aos negros pelos invasores norte-americanos provocaram protestos dos negros conscientes e dos operários brancos revolucionários. Na África do Sul e no Congo, a crescente industrialização da população negra originou diversas formas de sublevação. Na África oriental, a recente penetração do capital mundial impulsiona a população local a resistir ativamente ao imperialismo.
4. A Internacional comunista deve lembrar ao povo negro que não é o único que sofre a opressão do capitalismo e do imperialismo, que os operários e camponeses da Europa, Ásia e América também são suas vítimas, que a luta contra o imperialismo não é a luta de um só povo e sim de todos os povos do mundo, que na China, Pérsia, Turquia, Egito e Marrocos os povos coloniais combatem com heroísmo sues exploradores imperialistas, que esses povos se revoltam contra os mesmos males que consomem os negros (opressão racial, exploração industrial intensiva), que esses povos reclamam os mesmos direitos que os negros: liberdade e igualdade industrial e social.
A Internacional Comunista, que represente os operários e camponeses revolucionário de todo o mundo em sua luta por derrotar o imperialismo, a Internacional Comunista, que não é somente a organização dos trabalhadores brancos da Europa e América, mas também a dos povos de cor oprimidos, considera que é seu dever acolher e ajudar à organização internacional do povo negro em sua luta contra o inimigo comum.
5. O problema negro converteu-se numa questão vital para a revolução mundial. A III Internacional, que reconheceu a valiosa ajuda que podiam dar à revolução proletária as populações asiáticas nos países semi-capitalistas, considera a cooperação de nossos camaradas negros oprimidos como essencial para a revolução proletária que destruirá o poder capitalista. Por isso, o 4º Congresso declara que todos os comunistas devem aplicar especialmente ao problema negra as “teses sobre a questão colonial”.
6. a) O 4º Congresso reconhece a necessidade de manter toda forma de movimento negro que tenha por objetivo enterrar e enfraquecer o capitalismo ou o imperialismo, ou deter sua penetração.
b) A Internacional Comunista lutará para assegurar aos negros a igualdade de raça, a igualdade política e social.
c) A Internacional Comunista utilizará todos os meios a seu alcance para fazer com que as trade-unions admitam os trabalhadores negros em suas fileiras. Nos lugares onde estes têm o direito nominal de afiliar-se às trade-unions, realizará propaganda especial para atraí-los. Se não o conseguir, organizará os negros em sindicatos especiais e aplicará particularmente a tática de frente única para forçar os sindicatos a admiti-los.
d) A Internacional Comunista preparará imediatamente um Congresso ou uma conferência geral de negros em Moscou.
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