É a presidenta ou a presidente Dilma? Porém há casos em que a truculência masculina extrapola seus limites. Com todo respeito aos varões fardados e que têm por lema a preservação da ordem e segurança pública , as soldadas são demais ! Heresia ! – esbravejarão em censura os puritanos das normas linguísticas. Não há flexão de gênero para “soldado ”, tampouco se diz “corajosa soldado ”, mas é soldado mesmo, inflexível ! No caso das mulheres fardadas, não se considera a pessoa , mas o cargo ou profissão !
Se dizemos o médico , a médica, o garçom, a garçonete, por que não a soldada ? Mesmo os nomes comuns de dois gêneros distinguem o feminino pela presença do artigo ou outro determinante . São “aquela jornalista ”, “a estudante”, “as desacorçoadas boias-frias”. Porém às soldadas... No início do mês recebem o minguado soldo e, como todos os soldados de quaisquer patentes, são soldadas . Que segregação é essa – repito – à intrépida e valorosa militar?
As gramáticas se omitem, fingem que não é comigo. Os dicionários que , no aquartelado dos conceitos, enfeixam o espírito cultural da nação , registram “soldado ” só no masculino . Referem-se ao viril e destemido guerreiro de antanho que recebia soldo . Ignoram as soldadas do presente . São porta-vozes de nossa macheza e decerto também por isso os chamamos “pais dos burros ”. Fica-nos o dever ético de tê-las como pessoas sexuadas, mães e companheiras, tratando-as no feminino : a digníssima soldada .
No Chile, a ex-presidente Michelle Bachelet, batalhando a reconciliação da nação, confiou a chefia de segurança do palácio La Moneda a uma “carabinera”, quer dizer , a uma soldada . Nada mais simbólico e civilizador! Aliás , no país de Gabriela Mistral e Neruda, a Guarda Nacional integra-se no meio a meio : soldadas e soldados . Por que no Brasil não nos reconciliamos com a razão e a sensibilidade ?
Gina Lollobrigida observou: “Glamour é quando um homem percebe que uma mulher é uma mulher ”. No entanto , deixando que gritem o empedernido machismo e o espírito patriarcal que historicamente nos governa , lemos o absurdo em sua farda “Soldado Feminino PM Beatriz”. Dia desses, toquei no assunto com uma solícita soldada. Ela franziu a testa com ternura e respondeu com outra pergunta , entre o respeito à disciplina militar e sua convicção de cidadã: “Estranho , né?”. E, enigmática como a Mona Lisa, discretamente , sorriu.
(Imagens captadas na web. Permitam-me os fotógrafos
e as mulheres dos retratos. Agradecido.)
e as mulheres dos retratos. Agradecido.)
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