Apenas um número
Qual é o sentido que existe em sofrer
pela triste e pesada vida de Raskolnikov
ou ficar encantada por anos a fio
com um poema de Maiakósvik?
Poemas, livros, arte,
essas coisas não interessam
do mundo real não fazem parte
e ainda por cima embriagam a alma da gente
com sensações virgens
e plantam em nossas cabeças
um turbilhão de idéias sem grades.
A realidade exige futilidade
e me condena à banalidade,
quanto mais banal, mais aceito
mais perfeito, mais normal.
Em vão ler Proust e me perder em seu tempo perdido
ou Goethe, Nietzsche, Descartes, Machado,
Cecília, Neruda, malditos que se calem
em seus sepulcros e apaguem de uma vez
este fogo que flamba o meu peito
dia e noite e de todo jeito!
Quero banhar a minha alma em águas triviais
e encher o meu coração de toneladas
de mentiras religiosas, políticas e existenciais!
Nesta noite quebrarei definitivamente
o retrato de Dorian Gray e se perguntarem de Oscar
direi que não sei, não sei!
Sei apenas aquilo que o mundo exige que eu saiba:
mercado, dólar, competição, consumo
e eu simplesmente
um número.
Roseli Arruda
escritora
presidente da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil
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