terça-feira, 5 de janeiro de 2016

artigo - Graziela Delalíbera - Morte de Antonio Pompeu

Ator rio-pretense Antônio Pompêo morre no Rio de Janeiro
Graziela Delalibera
Antônio Pompêo
Antônio Pompêo tinha 62 anos e foi encontrado morto em sua casa na tarde desta quinta
O ator rio-pretense Antônio Pompêo foi encontrado morto neste terça-feira, dia 5, em sua casa, em Guaratiba, no Rio de Janeiro. Ele tinha 62 anos. A causa da morte ainda não foi divulgada.
O ator fez inúmeros trabalhos no cinema e na televisão, e foi um dos nomes que ajudou a abrir as portas para atores negros na dramaturgia brasileira. O Diário conversou agora à noite com um dos irmãos do ator, o aposentado Oscar Pompêo, que mora em Rio Preto. Abalado, ele disse que o desejo do artista era ser enterrado na cidade, junto da mãe, Sebastiana Pompêo. Segundo o aposentado, seu filho que mora em São Paulo estava indo para o Rio de Janeiro fazer o reconhecimento do corpo do tio, e ainda não havia definição sobre o sepultamento.
Um dos personagens mais marcantes de Pompêo no cinema foi Zumbi, no filme “Quilombo”, de 1984, dirigido por Cacá Diegues, coprodução brasileira e francesa. Na ocasião da estreia do filme no Cine São José, o ator veio a Rio Preto, onde até hoje tem familiares. Entre as novelas em que atuou, estão o “O Rei do Gado”, “Mulheres de Areia” e “Fera Ferida”.
Pompêo começou a envolver-se com as artes na juventude, ainda em Rio Preto. No ano de 1969, participou do grupo de teatro amador da antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (Fafi), hoje Ibilce. "Tinha acabado de entrar na faculdade e convidei-o para fazer o Patrão na peça "O Troco", de Domingos Pellegrini Jr. Foi também o primeiro cenário do J. C. Serroni", recorda o pesquisador Romildo Sant'Anna.
Segundo ele, a peça foi proibida na época, porque o ator negro interpretava o Patrão. "A peça já havia sido montada em Londrina. Resolvi montá-la em Rio Preto, mas escalei o Toninho para fazer o Patrão. Por esse motivo a peça foi proibida. Naquela época havia a Censura Visual. O cenário do Serroni era giratório, com logos enormes da Coca-Cola (a Coca patrocinou a confecção dos painéis). O censor achou que a peça era subversiva, que falava mal dos americanos. Basicamente, era um diálogo entre um camelô (Zé Passarinho) e o Patrão", conta Sant'Anna, acrescentando que "O Troco" só foi exibido às escondidas, na Fafi.
Conforme o pesquisador, naquele período, Pompêo trabalhava como entregador na Tipografia Paulista, na rua Bernardino de Campos. Ainda em Rio Preto, ele trabalhou com o dramaturgo José Eduardo Vendramini, que lamentou a morte do artista. "A última peça que ele fez conosco foi 'Os Cegos', depois partiu para São Paulo e para o cinema nacional, onde foi protagonista", informou, ao saber da morte do ator por meio de Sant'Anna. 
A atriz Zezé Motta, amiga e parceira do ator em inúmeros trabalhos, comunicou a morte do artista rio-pretense em seu perfil no Facebook. “Em choque, e com muito pesar que comunico a perda do meu amigo e grande ator Antônio Pompêo. Juntos, trabalhamos em Xica da Silva, Quilombo, entre tantos outros projetos no cinema, na televisão foram mais de cinco novelas, onde tivemos a oportunidade de estarmos um com o outro”, escreveu.
Pompêo também presidiu o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro, fundado por Zezé Motta em 1984. “Entre tantos projetos que criamos ou participamos, está “A Cor da Cultura”, um projeto educativo de valorização da cultura afro-brasileira, fruto de uma parceria entre o Canal Futura, a Petrobras, o Cidan , o MEC, a Fundação Palmares, a TV Globo e a Seppir - Secretaria de políticas de promoção da igualdade racial”, acrescentou a artista, sobre o amigo.


Texto publicado no Diário da Região de 6/01/2016.






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