terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Crônica - O amor e o abandono - Manoel Messias Pereira


O amor e o abandono



Meu primeiro amor foi de sonhos e loucuras. Foi um porre de felicidade, chegamos a nos jogar no rio a cair nas chuvas. Foi como sair de si e mergulhar numa doce ilusão, num caminho em que partimos pro nada, e não sabíamos aonde deveríamos chegar. Foi de paixão pura.

Erámos um  casal que embriagava-se por momentos de felicidade, de sexo, de ternuras carícias.  Mas num repente ela muito mais experiente, partiu talvez ao encontro de um ex - amor, talvez se apaixonou, e optou em ser feliz e eu fiquei só. Olhando uma esquina vazia, subordinado ao nada, como um pequeno cão vira-lata que se perde de seu dono.

Acreditei que todos nós temos direitos e que estes precisam ser respeitados. Cada qual com a ideia de ser feliz. E comecei a teorizar que o amor nasce de um encontro, numa festa, numa quermesse, numa prenda, numa canção brega do passado, na ilusão de uns olhos bonitos que se cruzam, evoluem do olhar ao pegar, vem a paixão e com ela a emoção. E a emoção não abandona a razão, caminham juntas. Assim seremos alegres um dia ou outro, tristes um dia ou outro, teremos motivos de sorrisos e momentos pra chorar. Quem ama tem de ter todos os direitos inclusive a de sofrer por amor.

Todos os sofrimentos são autopunição criados pelos poetas, e o fogo  do amor é a imagem sádica da poesia de todas as épocas. Acender o fogo para alguns povos como na Índia é o ato do coito.  Carl Jung quando escreve Metamorfose em que ele afirma que o libido é a própria vida. E Wilhelm Reich na sua orgasmoterapia fala da liberação da capacidade do amor nos seres humanos só ela pode dominar a sua destrutividade sádica.

A ideia tão difundida por John Lennon e Yoko Ono, em 1968 quando o casal produziu um álbum experimental gravando a música "Give Peace a Chance" durante o Bed-Ins for Peace" que ficou entendido na cama para a Paz. E que é bastante difundida no período em que desenvolveu toda a cultura de contestação jovem. Sendo a frase faça Amor não faça a guerra que é atribuída a Herbert Marcuse filósofo alemão e  literato, que escreveu a tese "romance na arte alemã, inspirada na obra de Lukacs pré-marxista e em Hegel. Mas é  o que todos dizem.  Porém no livro de Guido Mantega, no chamado caderno do presente "Sexo & Poder"da editora brasiliense,  esta obra é de Wilhelm Reich.

Para um olhar reichiniano essa é a terapia à castração psíquica que consiste em semear angústia sexual e sentimento de culpa, de pecado. E esse sentimento permite serem todos presas fáceis do fascismo, alicerçados no pensar  como as massas neuróticas que mantem a base mental caracterial e com recalque dos instintos sexuais.

Os seres humanos quando inicia o processo do conhecer, depois do caminhar, namorar, ficar, precisam se desnudar. Conhecer o corpo e sentir esse corpo como depositário de emoções, de instintos, de fantasias de prazer, de formulação da vida. A genitália será não só um órgão de reprodução como deseja a Igreja católica, mas de ter um papel redentor ocupa o lugar  da essência na origem da nossa compulsividade.

E nisto homens e mulheres pensam diferentes, porém Aristófanes um poeta grego nascido em 445, cria uma falsa  ideia dizendo em sua obra "Lisistrato" que as mulheres de Atenas exaltam a liberdade e usam seus atrativos como arma política. O corpo é o seu bem próprio. E Lisistrato fez greve de amor para conseguir que o marido fizessem a Paz. A pobre estava na vanguarda. Mas enquanto isto as outras mulheres desfaleciam só em pensar em privar dos prazeres do amor. E nisto há uma certa convergência entre os fatos históricos e poéticos.

O que sabemos é que cada mulher quer agarrar o seu homem, quer reacender-se em carícias o fogo do libido, quer ser feliz ao lado do ser amado. Mas enquanto isto o homem quer dar o um grito de Heureca, que exprime o grito da realização, muitas vezes de forma possessiva. Ele quer a mulher , de corpo alma e história, E assim apodera-se dela. Mas depois abandona. Diferente do abandono que a mulher faz.

A mulher que abandona quando ela está procurando ser feliz, por outros caminhos. Ela está buscando com a sua sedução uma continuidade um porto seguro.  Só sai de uma relação por que entende que não está feliz. Já o homem quando abandona é   que  ele apoderou da mulher,  brincou e largou. Ele é o bicho caçador. Ele é o ser que exprime uma realização. Há uma ideia é que a relação é uma mera brincadeira. Uma aventura, uma história, uma novela. Sendo essa uma crônica que tem consequência. E sobre essa tal consequência falaremos numa outra oportunidade.


Manoel Messias Pereira

cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil.



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