Crônica - O ferimento eterno - Manoel Messias Pereira
O ferimento eterno
Será que a nossa vida é sempre uma permanente tragédia. Será que essa poesia que chora sufocada, por agentes do Estado que faz que domina o ser humano brasileiro com joelhos na barriga e arma na boca dá um tratamento humano e não degradante como estabelece-se na declaração universal dos Direitos humanos? São perguntas que não cala, diante do arame farpado que essa sociedade capitalista espinhosa, que rasga a nossa carne cotidianamente, que deixa em nós respingo de sangue, pelos caminhos que passamos, como marca de uma tragédia que não é grega. É sim expressão de uma arte democraticamente demoníaca, pra quem vela e acredita no Satanáz.
Eram dois estudantes, um brasileiro e outro chileno ambos sonharam com as moças nas janelas, ambos acreditavam ter no bolso uma poesia pra ofertá-las. Ambos tinham sonhos de meninos, tinham valores como respeitos coletivos entre os seres humanos, passiveis de uma convivência harmoniosa, num princípio socialista de plena Paz. Ambos pensavam que podiam estabelecer serenatas harmoniosas, na loucura de nossas existências. Mas todos os seus sonhos foram ceifados, pelo Estado Brasileiro.
Lauriberto José Reys o brasileiro
Dois amigos dois estudantes, ambos tombaram juntos. eram as 17 horas do dia 27 de fevereiro de 1972, quando agentes do Estado Brasileiros, comandados por um torturador chamado de Dr. José, metralharam os dois militantes, fato ocorrido na Serra do Botucatu, no bairro Tatuapé em São Paulo, capital do Estado que leva o mesmo nome, São Paulo.
Lauriberto e Alexander ambos militante da Ação Libertadora Nacional ALN e ambos atuaram ulteriormente na MOLIPO - Movimento de Libertação Popular. Ambos já estavam sendo seguidos por agentes de segurança ideológica do estado torturador. lauriberto que foi um dos organizadores do 30. Congresso da União Nacional dos Estudantes da UNE, e que acabou preso neste congresso em 1968. E Alexander que era estudante do Colégio de aplicação. Um secundarista. Mas ambos deixaram respingos de sangue como marca de um caminho.
E é essa peça trágica que um estado estabelece na sua ação de estupidez, na eliminação de valores, de juventudes, de cérebros, de inteligências. Pois um estado que ao invés de formar o ser para um mundo de Paz. Tortura e mata. É um estado que planta vento esperando colher boas tempestades. E a sua estética como Estado é simplesmente repressão.
Enquanto que o olhar de Estado com certeza focalizou cérebros americanos, que agiram como amestradores de pequenos cães, que por aqui diziam serem governantes.Mas eram pessoas desqualificadas como gentes eram monstruosidades sanguinárias fardadas e botinadas travestidos de governantes submissos e humilhantemente, pelo estado do Tio Sam.
E é essa peça que não se encerra numa maldita Comissão da verdade, mas que é o ferimento eterno, que machucou e ainda machuca, fere cotidianamente mentes, dignidades, como chagas que verterás eternamente. E essa nação não tem a concepção clássica das nações europeias de maneira romantizadas, mas é nação do ajuntamento de seres da mesma espécie vivendo na diversidade da existência, e que ainda sonham com um Brasil passado a limpo. E que ainda mantém os olhos vermelhos de chorar, ainda mantém lágrimas vertendo pelas faces. E ainda demonstram evidentemente e com razão. Que a violência implementada por esse Estado do absurdo, torturador do extremo, não acaba com uma comissão de verdade.
Manoel Messias Pereira
cronista brasileiro
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP.
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário