segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Crônica - O profanismo do Sagrado - Manoel Messias Pereira

artista Robert Ferri (italiano).

O Profanismo do Sagrado


Desde de criança vejo pessoas carregando uma bíblia, seguindo uma Igreja protestante, e usando a escrita religiosa como manual de sobrevivência. Muitos deles batem de porta em porta, às vezes pelas manhãs de domingos, ou na hora em que as donas de casa esta preparando a comida. E em muitos casos as pessoas receptadoras, dizem ja vem aqueles chatos falando de Cristo.


Muitos vem dizendo que estão pregando a palavra de Jeová. Mas muitos não tem noção histórica, geográfica, do período em que as condições das palavras bíblicas foram colhidas, escritas, nem seus contextos e valores antropológicos, e nem mesmo entendem como foram ditas as parábolas e porque tem esses formatos. Outro fato interessante é entender que quando há uma tradução palavras sentidos se perdem ao longo destas traduções, mas os pregadores querem dizer das palavras escritas no seu sentido literal, não levando isto em conta. Ou seja não compreende que as línguas descritas como mortas para chegar a nossa compreensão em português, passou pelo grego, depois pelo latim. Discutir isto é interessante pra gente situar um pouco diante dos pregadores.


Junto com a pregação vem ação nefasta como a ideia dos camitas, que remetem-nos aos processos de discriminações e exclusões sociais e quando não a iconoclastia, o ato de destruição de imagens. E diante disto é que nós negros portadores de direitos preservadores culturais nos cultos afros sofremos com uma carga de violências, sem culpa alguma. E recentemente vimos Casa de Santo sendo incendiadas, vimos pessoas expulsar membros da umbanda e do candomblés das praias, pessoas terem as casa invadidas e uma menina sendo agredida.


E diante disto ficamos perguntando qual é a orientação que Jesus Cristo pregou, para estabelecer tantas violência ao próximo? Essa pergunta por mim fica sem resposta, como uma indignação ao processo de respeito humano. Quando criança aprendi que devemos amar ao próximo como a mim mesmo e ter um Deus sobre todas as coisas. Mas cotidianamente não é essa lógica que estabelece a sociedade em que vivo, a não ser que todos são falsos em suas pregações. Ou a falsidade estão nas profecias.


Num ensaio de Fridrich Engels, publicado em 1894 na revista Neue Zeit, as primeiras comunidades cristãs são comparadas, seguindo uma formulação de Ernest Renan às sessões locais da Associação Internacional dos Operários, a Primeira Internacional. Era um ambiente popular de pobres e sem direitos, a mesma estrutura distinta do conjunto da sociedade circundante, uma vontade de proselitismo mas com uma escassa capacidade organizativa, formas ao mesmo tempo avançadas e ingenuas de solidariedade assistencial nos confrontos com o mundo privilegiado e egoísta.


Essa estrutura que reinava no interior das comunidades que se constituíram fora da Palestina,em que há algum tempo a crise econômica e religiosa favorecera o aparecimento de pregadores itinerantes iniciados que conseguiram aparelhar politicamente de forma não homogênea . E assim ainda encontramos uma separação hipotética da minha parte, entre seres dominados e seres que dominam dentro da mesma Igreja, ou melhor parece que há luta de classes.


No Ocidente a decadência da agricultura foi agravada pelas duras e sangrentas espoliações das guerras civis, antes de se afirmar o principado de Augusto, tinha também feito entrar em crise o sistema  do latifúndio, com seus antiquados métodos de produção. Na Itália, na Sicília, na Gália meridional na Espanha a mão de obra servil estava menos concentrada, dispersa entre as concessões mais ricas da aristocracia romana, itálica e provincial; começava a aparecer um novo tipo de camponês, aparentemente livre, mas empobrecido e contratado pelos proprietários de terras absentistas e por toda uma série de funcionários corrompidos. E o Cristianismo servindo de fundo.


E após a reforma religiosa no Século XVI, a unidade da Igreja Católica foi rompida devido ao surgimento destas novas religiões cristãs, e com isto vimos o agostiniano Martim Lutero em confronto com Munzer. E num trecho do Livro de Friedrich Engels intitulado "Guerras Camponesas na Alemanha" Editora Grijalbo consta "Lutero reformador burguês, opondo a Munzer, revolucionário plebeu. Munzer que nasceu em 1498 teve o pai enforcado vítima da arbitrariedade dos condes de Stolberg, com quinze anos fundou uma liga secreta contra o arcebispo de Magdeburgo e a Igreja Romana. Era um plebeu erudito teológico estudava inclusive os místicos medievais e especialistas nos escritos quiliásticos de Joaquim o Calabrês. E que posso afirmar que na Escola pública poucos ou quase nenhum professores abordam sobre a figura de Munzer. E as provas do próprio Estado nunca abordou com o respeito histórico devido  esse assunto provavelmente porque não deseja estabelecer a ideia da luta de classe no processo da formação de nossos jovens.  Na luta pela terra Munzer que via o princípio o novo reino milenário, dizia sobre o juízo de Deus sobre a Igreja degenerada no confronto entre camponeses e donos de terra perdeu a cabeça foi decapitado.


Quando lemos a bíblia é em Apocalipse que foi escrito nos finais do século I nos centros urbanos da Ásia Menor, período em que havia o peso da opressão estrangeira, nas suas mensagem transparece o ódio violento contra os dominadores romanos, os seus aliados e suas viciadas desapiedadas classes dirigentes. e nesta época a capital do Império é associada a inimigo histórica do povo hebráico, a Babilônia que muitos séculos antes destruíra a independência e minara a própria integridade religiosa. e segundo Ambrogio Donini os Césares são outra incarnação religiosa da besta satânica. e com isto lembramos do grande incêndio de Roma de 64 que devastou  os bairros nobres  elegantes da época e exaltara uma manifestação de raiva divina, como sinal avisadores do fim eminente do mundo e do início de um futuro próximo da idade milenária da justiça, da igualdade e da supremacia dos santos eleitos como filhos de Israel. Porém já se passaram mais de dois mil anos. E agora penso no Jesus Cristo do apocalipse de cabelos brancos como lã, cândidos como a neve, os olhos como chama do fogo, os pés semelhantes a bronze abrasado numa fornalha, a sua voz como o fragor de grandes águas; na mão direita sete estrela e da boca a espada afiada de dois gumes o seu vulto era como o sol quando resplandece. Portanto época em que os justos eram assassinados e clamavam por sua vingança e o conjunto de mercadoria como ouro, prata, pedras preciosas, marins, púrpuras, seda, bronze, ferro, mármore, azeite, vinho, flor de trigo, farinha, uma imagem direta  do tipo de comércio dominante entre a Ásia Menor e a capital; local de compra do "espírito" do homem. isto significa do ser escravizado.


Num ambiente tão empobrecido e abatido, compreende-se a mensagem de iniciação religiosa, transmitida pelos missionários cristãos, através do canal da emigração judaica, desembocando na criação das comunidades ligadas por vínculos de solidariedade e de apoio mútuo a espera de um novo rei ainda que celeste.


Somente assim podemos ter inicio a compreensão daqueles que com uma bíblia fomenta-se de preconceitos, homofobias, trans - fobia, racismo, e atiram pedras no seu próximo observando os telejornais, assassinam pessoas, botam fogo em casas, apoiam ações subversivas mas atuantes como da Ku-Klux Klan, que atiçam fogo em Cruz. A mesma cruz que para alguns cristãos é sagrada. E com isto ainda observo os passos daqueles que desejam bater de porta em porta, assanhar os cachorros nas ruas e vem trazendo debaixo do braço a bíblia como manual de sobrevivência. Do contrário ficarei como uma oração subordinada esperando outro entendimento ou outra explicação.



Manoel Messias Pereira




cronista

Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil


Nenhum comentário:

Postar um comentário