quinta-feira, 26 de maio de 2016

Crônica - A sociedade cristalizada - Manoel Messias Pereira

A Sociedade cristalizada


Quando observamos a sociedade, evidenciamos que ela é feita de exploradores e de explorados. Os exploradores são os donos dos meios de produção, são eles que instrumentalizam as ideias, as filosofias pregadas, estabelecidas pela intelectualidade nas escolas nos centros acadêmicos. São esses pensamentos que cristalizam conceitos, preconceitos, discriminações, racismo, machismo, violências contra mulheres em seus poderes fora do lar, além  em gays, lésbicas, transex,  enfim os males são muitas vezes discutidos e acatados por parlamentos, por tribunais e que não revoluciona nada apenas acata o que determina o status -  quos de uma maioria de iguais, cidadãos preconceituosos e que mantém a cristalização de todas essas estupidezes humanas, portadoras do olhar de fogo, do desejo de morte e desgraça por meio da guerra ou de tempos de Paz.

Quando observamos Jean Paul Sartre ele afirmava que o ser humano primeiro existe, se descobre, surge no mundo e que só depois se define. Esse pensar vai contra o que dizia Raymond Plant que afirmava que a essência do homem precede a existência humana. Coisa que nunca entra na minha cabeça. Ou seja se o ser humano não existir o que vale esse raio de essência. mas é esse tipo de pensar que muitos estabelece como verdade.

Pra entender isto é bom lembrar de Millôr Fernandes, que dizia você não sabe como é divertido, o absoluto ceticismo. Pode -se brincar com a hipocrisia alheia como quem brinca com uma roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada. Ou seja a vida fica assim num plano susto. Numa forma de acordar desta cristalização de pensares que levam a vida numa eterna complicação. Como diria o saudoso cantor Cazuza, "eu odeio gente complicada e preconceituosa, hipocrisia e ser acordado nenhuma outra consegue ser pior".

E essa forma de pensar de Cazuza, evidencia essa sociedade pensada organizada e até administrada por pessoas que pensam em complicar a vida, a política, as relações sociais, as convivências. e as lutas de classes. Todos esse status -quos é pensado, os conceitos são pensados. E por isto que Sartre, dizia que o ser humano deve ser inventado todos os dias e viver de escolhas o ser humano existe assim no mundo.

Geralmente quando penso no mundo, penso em quem esforçou-se para que eu estivesse no mundo e aí vou lembrar de minha mãe, aquela simples senhora, que um dia apaixonou por seu primo evidentemente o meu pai, tentaram se casar, discutiram na hora do casamento e saíram todos do cartório sem consolidar-se o matrimônio mas foram viver numa mesma casa e lá o meus pais puderam num ato de serenidade,  por em prática a relação sexual, em que minha mãe engravidou e num dia de agosto de 1955 me deu ao mundo como luz.

Uma luz negra, que tem o brilho dos sois, das boas áureas, das crenças do divino, da interpretação universal de que há uma construção no mundo elaborado por um ser maior do que todos nós e que devemos manter os olhos voltados no céu, a procura deste mistério. É assim a história do natal de Florência e Messias os meus pais. E o meu nascimento.

Evidente que nestas minhas palavras em relação a mim tem toda a carga destas filosofias, destas pregações religiosas, destes conceitos acadêmicos, que evidencia toda uma cristalização, em que há preconceitos, há discriminações, e tudo mais. Mas também a um evidenciar de uma negação, de uma certa tradição. Por exemplo quem disse que é preciso casar com assinaturas de certidões de casamentos? Eles meus pais se fosse julgados somente por estes atos morreriam solteiros e livre do chamados casamentos formais. Mas como meu pai tinha a ideia de que um ser humano, pode ter mais de uma mulher e teve cinco que conheci, e geralmente quase ao mesmo tempo, sem sequer assumir essa questão de casado. E apenas casou com uma chamada dona Neuza na cidade de Ribeirão Preto, mas que também abandonou e veio a falecer sozinho sem nada, sem bens, e com a cabeça cheia de cachaça, e curtindo com amigos num bar da periferia de São José do Rio Preto-SP. Evidente que quem mantem um olhar moralista sobre a realidade vai dizer esse era um prevaricador, um ser da fornicação enfim alguém que pode quebrar as regras pré estabelecida segundo os pensares, religiosos, educacionais e tudo mais que a sociedade conservadora estabelece.

A escritora Martha Medeiros disse numa frase que se a sociedade não fosse viciada em hipocrisia, a infidelidade seria constitucionalizada. Mas sempre que penso nisto eu lembro da história contada ainda na escola fundamental no antigo primeiro ginasial, portanto na minha quase final de infância uma vez que isto também é um conceito, e que muitos dizem que a criança tem dificuldade em entender as malandragem e as sacanagens que estes adultos pensam e fazem, ou seja um professor que lecionava para mim contou numa lição de leitura de que existiu um filósofo chamado Diógenes de Sinope que vivia num tonel, lambia água das poças e que perambulava pelas ruas de Atenas em plena luz do dia com um lanterna e dizia que procurava um homem. Penso eu que talvez fosse de respeito, de bens morais, talvez não. Esse filósofo que praticava esse ato  foi considerado o pai da hipocrisia.

E assim concluo que essa sociedade pra mim, precisa de mudanças, de revolução, precisamos não quebrar apenas a cristalização destes pensares mas revolucionar. Ou seja por em prática outros pensares filosófico como a luz da realidade, alicerçado na necessidade, mas entendendo que quando eu falo sobre da minha vida privada neste contexto, eu deixo de brincar hipocritamente com a vida alheia, como o ceticismo muito bem dito pelo Millôr Fernandes. Como aliás ensinam nas universidades e nos manuais de redação. Mas o certo é que essa sociedade continua de exploradores e explorados e a moral e os relativismos todos são da classe dominante, que continuam dando as argumentações e fomentando as maldades, do preconceitos, discriminações, racismo, violência e tudo mais. A receita para por fim é um pensar revolucionária que necessita ter início a partir das necessidades desta população. Que creio que deve sofrer de algumas  destas doenças sociais, ou não. E não adianta as discussões nos parlamentos e nos tribunais. Todos eles são contaminados pela hipocrisia que cristalizou-se. Quebrar só se for fincando uma picareta ideológica na cabeça de cada um pra pegar no tranco e voltar a necessidade básica de todos. E aí eu quebro o paradigma da paz social sempre bem armada e difundida com muita morte, e que todos os dias ilustram os programas de televisão no Brasil em diversas emissoras. E essa banalização da vida parece que vai aos poucos normalizando-se.


Manoel Messias Pereira

crônica
membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
São José do Rio Preto -SP.


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