sábado, 21 de maio de 2016

Crônica - O Mito Histórico na Ciência e na Religião - Manoel Messias Pereira





Em maio de 2008 quando o Supremo Tribunal Federal discutiu e aprovou o uso das células-tronco, sendo que a Lei de Biossegurança já havia sido aprovada desde 2005 e com isto permitia a pesquisa, e o que o Supremo na verdade decidiu no ano passado foi a legalidade.






A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, emitiu uma nota oficial em que manifestou a sua decepção com a aprovação da Lei de Biossegurança, e o bispo D. Paulo Mendes Peixoto, da Diocese de São José do Rio Preto-SP, que já não está mais nessa diocese lamentou a decisão do Supremo, dizendo que era inaceitável um caminho de destruição de vidas para promover outras.






O presidente do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico, Professor Antonio Zago afirmou que a decisão do Supremo Tribunal Federal a favor da Pesquisa com células-tronco embrionárias dificilmente causará uma explosão neste tipo de estudo

.Enquanto isto o ministro da saúde do  governo Lula, José Gomes Temporão, afirmou que é preciso criar uma rede integrada dos trabalhos de pesquisas com células-tronco.

Essa luta entre a ciência e a religião, alicerça a ideia da discussão entre a fé e a razão e isto remonta os idos medievais e a transição para o período moderno, e que traz o confronto entre o teocentrismo e o antropocentrismo, e nesta lógica construíram o mito religioso e a fomentação do mito científico.

E neste contexto é que podemos reportarmos a figura de Galileu Galilei, que com bases nos estudos dos átomos promovidos pelos gregos, ele passou a questionar a igreja em relação ao segredo eucarístico. Porém nos livros escolares há a ideia de que ele enfrentou o Tribunal da Santa Inquisição por admitir a esferidade da terra, e que negou seus estudos e seus escritos e tornou-se público a frase "Eppur si move" ou seja assim mesmo ela move.

História essa contestada pelo escritor, jornalista e historiador Gehard Prause em seu livro "Os enigmas da história" numa revisão de mitos e lendas, obra que ele faz referência ao livro ao livro de arte de K. Von Piloty (1826-1886) que apresenta Galileu na prisão, e que Prause afirma que não houve prisão, não houve tortura e que a imagem de suas pesquisas revela um Galileu muito diferente, do que comumente encontramos nos livros didáticos.

O mito de Galileu Galilei, como mártir renascentista é também contestado pelo escritor húngaro Arthur Koestler em seu livro "Sonâmbulos", que vai descrever minuciosamente o Processo de Galileu e como esse mito surgiu e paralelamente temos o livro "Galileu Galilei" do húngaro Zsolt de Harsányi, que apresenta uma série de análises de documentos, e autos processuais que não apresenta Galilei como mártir.

E a informação é que este clichê que conhecemos, surgiu a partir de Napoleão Bonaparte, quando ele ocupou Roma e os Estados Pontifícios em 1810, unindo a França e transferindo para Paris volumes de autos e documentos do arquivo secreto do Vaticano rigorosamente selados. Depois disto em 1814 Napoleão foi conduzido a Ilha de Elba e depois a Santa Helena. Já a Revolução de 1848, muito mais tarde portanto afugentou o Papa de Roma, e a documentação sobre Galileu, não foi revista.

A informação de Prause, é que Galileu chegou a Roma, na Primavera de 1611 e foi recebido pelo Papa Paulo V e o Colégio dos Jesuítas o distinguiu com honras no dia 5 de maio de 1616 e após a correção educacional, o Santo Ofício promulgou um Decreto que declarou o movimento da terra como errado contradizendo em todos os pontos a escritura sagrada. E quando do Index, vamos ver que nunca houve um livro de Galileu proibido, mas sim de Nicolau Copérnico, mas que foi liberado em 1620.

Com esses apontamentos podemos entender a obra de Guitta Pessi Pasternak "Ciência - Deus ou Diabo" em que vamos encontrar a entrevista com Paul Caro, químico do Instituto da França encarregado dos Assuntos Científicos da Cidade da Ciência, que afirma que o mito é um fundamento menos anedótico de tendências pesadas da pesquisa. Elas se apoiam as vezes sobre o não dito-profundo. A ciência aparece com a evidência como ator fundamental sobre uma fronteira do imaginário social. . .a ponto de inspirar a paixão política.

Isto leva-me a observar uma nota do escritor Jean Pierre Vernont no livro Khora de Jacques Derrida, em que Vernont afirma que o mito coloca em jogo uma forma de lógica que se pode chamar, em contraste com a lógica com não contradição dos filósofos, uma lógica do ambíguo, do equívoco, da polaridade.

A ideia da contradição do mito religioso, do mito científico, vai encontrar uma tentativa de justa posição nos trechos da 13a. encíclica do pontífice João Paulo II, quando ele disse que "A fé precisa da razão," "privada da razão a fé pôs em maior evidência o sentimento e a experiência correndo o risco de deixar de ser uma proposta universal. Com isto cai no perigo de ser reduzido a um mito ou superstição.
Desta forma o mito religioso, desvendado pelo mito da ciência, que transforma em mito histórico e que precisa ser desvelado pela própria ciência trazendo a luz a idéia que nada é estático e sim dialético. Como a canção que desperta o amor não por ser bel mas por ser mística. E sendo a mesma matéria de um conhecimento.

Manoel Messias Pereira
Professor de História
Poeta, Cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB 
São José do Rio Preto -SP.



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