quarta-feira, 11 de maio de 2016

Crônica - Cansada - Monica San

Cansada


Cansada...
desse discurso "em nome da nação brasileira" "em nome do povo brasileiro" "contra a corrupção jamais vista em nosso país" e bla´blá blá
Porque será que os entusiastas do "movimento pró impeachment da Dilma" vulgo "golpe", não criam coragem e assumem seus reais motivos?
Este discurso deveria ser assim:
- Para acabar com a invasão de pobres nas universidades brasileiras, especialmente nas públicas (eu disse públicas);
- a invasão de pobres nos shoppings, comprando e não apenas passeando;
- a invasão de pobres nos aeroportos, viajando com a família;
- contra o aumento do número de crianças pobres frequentando as escolas, fora das ruas;
- contra famílias pobres beneficiadas por programas sociais deste "governo dos pobres";
E etc, etc, etc.
E ai eu me pergunto: será que, se o impeachment fosse votado pelo povo, pelas pessoas que elegeram este governo, a Dilma sairia? Será que é vontade dos 54 milhões de brasileiros que a elegeram, que a presidenta deixe o governo?
Ou será que mais uma vez, o destino do nosso país está sendo decidido por uma minoria de ricos, sujos, mentirosos e tão corruptos e mais até do que os que estão agora sendo julgados?
Se há ladrões nesta história (e nós sabemos que há), eu diria que o enredo deveria ser assim: ladrões de banco, graduados e pós graduados, caçam, julgam e condenam ladrões de galinhas.
E o discurso é de santos condenando demônios. Deuses manipulando a vontade de um povo, como se fossem donos desta vontade.
Mas não o são...não mais.
Até 2018, muitos de nós teremos muito do que nos arrepender caso o golpe se estabeleça e esta minoria manipuladora vença e consiga destruir o pouco que foi conquistado até agora. Muitos entusiastas equivocados, que não tem noção da merda que estão ajudando a fazer com certeza irão arrepender-se, quando o "novo governo" mostrar a sua "velha cara". Quando a história começar a se repetir, e os urubus começarem a se debruçar sobre a carniça do povo que eles pensam ter destruído.
Porém, este tempo será suficiente para que o povo, agora contaminado pelo gosto da dignidade, pela sensação de ser valorizado, pela expectativa de não voltar mais a viver à margem da sociedade mas passar a fazer parte dela, para que esse mesmo povo que foi às ruas e elegeu um presidente pobre para representá-lo, se organize e faça valer novamente a sua vontade, a sua decisão, o seu poder.
Eu sou contra o golpe, sou a favor de um povo que pela primeira vez na história sentiu-se parte dela, um povo que pôde sonhar com uma vida melhor, com mais dignidade e justiça para quem de fato trabalha por este país, um povo cansado de sofrer e viver sem expectativas. Sou a favor da continuidade de mudanças que ainda não são suficientes, mas que fizeram muita diferença na vida de milhões de brasileiros.
Mas, sinceramente, se isso for destruído agora por este discurso hipócrita e fascista de políticos sujos e manipuladores que estão a serviço apenas de seus próprios interesses e nunca, jamais em nome do povo brasileiro, eu peço a Deus que inunde o coração e as mentes dos que irão às urnas nas próximas eleições, para que o milagre se repita, e novamente, a vontade deste povo se faça valer e prevalecer diante de toda uma nação.
Porque o que se conquistou não há de ser perdido, e os olhos que foram abertos não mais se fecharão, porque um povo tocado pela justiça social não pode compactuar com o poder desmedido, com a hipocrisia, e com as injustiças sociais que são características do governo que se prepara agora, para destruir o que a democracia construiu.
Não é a sorte que se lança sobre o Brasil na votação do impeachment, mas um desafio. E ao povo, cabe mostrar do que ele realmente é capaz.
Eu ainda acredito.
(Não estou lançando aqui uma discussão, apenas dando-me o direito de um desabafo, há muito tempo silenciado, na minha página, no meu mural, no meu espaço. Peço licença aos que por ventura incomodarem-se. Aos que compartilham das minhas ideias, agradeço a leitura.)


Monica San

cronista, poetisa
São José do Rio Preto -SP. Brasil


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