sexta-feira, 25 de março de 2016

Crônica - A Paixão de Cristo - Manoel Messias Pereira

a

A paixão de Cristo
Quando eu era bem jovem, adorava ir ao cinema,para assistir ao filme "Paixão, Vida e Morte de Cristo", e ficava emocionado com as cenas em que apareciam o sofrimento e a crucificação de Cristo.
Com o passar do tempo, já na minha adolescência, procurei leituras que muito contribuíram para a minha formação cultural e a minha definição ideológica em relação à igreja, a política, à economia, a às transformações estruturais da sociedade de um modo geral.
Descobri que durante o governo de Herodes, na Judeia, houve duas mil crucificações, época em que os judeus estavam divididos em quatro seitas ou seja, os saduceus, os fariseus, os austeros e os radicais zelotes. Com Cristo, surgiria mais uma seita, a dos nazarenos.
Havia um grande anseio apocalíptico, na Judeia, no século I. Esperava-se a vinda do Messias, aquele destinado a libertar Israel dos romanos.E com o Messias viria o fim do mundo, o reinado de Deus na Terra e uma nova era para o povo escolhido.
A Palestina tinha um milhão de habitantes. Em 63 a.C os romanos converteram a Judeia em província romana; para os judeus a religião era a ideologia nacional.
Os evangelhos nada dizem sobre o ano, o mês e o dia do nascimento de Jesus, e o dia 25 de dezembro apareceu por ordem do Papa João I, que no ano de 525 decretou a data de Natal, já que os primeiros padres católicos acreditavam num Natal entre 25 a 28 de março e 2 a l9 de abril, por Clemente de Alexandria.
No entanto, as cenas descritas no Evangelho de São Lucas, com pastores "que passam a noite ao relento para guardar os rebanhos", fazia pensar mais na primavera do que no inverno.
A escolha do dia 25 de dezembro está relacionada com a velha teologia solar, dia que no calendário romano coincidia com o solstício do inverno.Era muito comemorado no Oriente e no mundo mediterrâneo como a data do renascimento do sol, uma das divindades mais difundidas, identificadas com Mitra. Deste modo foi fácil para a igreja fazer uma solenidade extremamente popular, apresentando Cristo como o sol da salvação.
Acerca da família de Cristo, temos poucas informações. No entanto, havia um pai, uma mãe, e quatro irmãos e duas irmãs.
Em Matheus e em Lucas, o local de nascimento é a gruta de Belém. Para Matheus, a família de José foge para o Egito, escapando do massacre das crianças promovido por Herodes, e vai para Nazaré.
Mas em Lucas, a anunciação de Cristo é feita pelo anjo à virgem de Nazaré e de lá a família vai para Belém, obrigada pelo censo ordenado pelo imperador César Augusto, quando Quirino governou a Síria no ano de 6.a.C. Os censos tampouco exigiram deslocamento para o local de origem familiar e José era de Belém, e os propósitos do censo eram cobrar impostos.Já o monge Dionísio Exigus, incumbido de determinar o ano zero, errou no calculo e segundo Lucas, Jesus Cristo teria nascido no ano 7a.C, um pouco antes da morte de Herodes.
Com estes apontamentos, a cronologia história difere e muito dos apontamentos bíblicos, e fica sempre uma pergunta para quem estuda sobre a toda a veracidade do evangelho.Afinal quem é Jesus?
Na Revista Superinteressante, D.Paulo Evaristo Arns, "um judeu de sua época, instruído no Torá e observante de tudo o que era fundamental para o povo de Israel. Possuía uma consciência crítica de seu tempo.Foi um sinal de contradição.Na primeira pregação pública na Sinagoga de Nazaré, forma-se o grupo de opositores que tentam matá-lo, mas forma também o grupo de discípulos que levavam a sua obra adiante.
Na mesma revista, o rabino Henry Sobel, "Jesus foi um judeu, um grande mestre, que pregou idéias universais da fé judaica. Rejeitado como Messias, porque o reino de Deus que aguarda com tanta ansiedade ainda não se manifestou.O judaísmo não reconhece um filho de Deus, que se eleva acima dos outros seres humanos".
Hoje uma facção de teólogos, de exegetas da Bíblia, duvidam da veracidade de várias passagens do Velho testamento e do Novo Testamento, e afirmam que as igrejas não se alimentam de mentiras. Já a teóloga Bárbara Hiering, com especialidade nos escritos do Mar Morto, afirma que "Jesus não morreu na cruz, casou-se com Maria Madalena, separou-se, casou novamente e teve três filhos e morreu aos 70 anos".
Em agosto de 1987, a Comissão Pastoral da Terra do Rio Grande do Sul propôs a releitura da Bíblia com um Jesus num modelo de "conflito, de agitador".
Para o padre católico John Meir, professor de Novo Testamento na Universidade Católica da América em Washington, Jesus histórico não é um Jesus real. Para ele Jesus viveu aproximadamente trinta e cinco anos na Palestina.
Em cada um destes anos ocorreram mudanças físicas e psicológicas. Mas não há registro de todas essas mudanças, por isto ele abandonou a ideia de conhecer o Jesus "real" por meio da crítica histórica. Em síntese o Jesus da historia é uma abstração.
O contexto apaixonante deste tema coloca-nos diante da certeza: todos nós não somos nós, mas um conjunto de ideologia que atua sobre nós, sobre as nossas cabeças e são as superestruturas políticas, religiosas e filosóficas, que ditam as normas e as nossas convivências sociais.Com isso posso ir assistir "A Paixão, Vida e Morte de Cristo" só que com um olhar conjuntural.




Manoel Messias Pereira
poeta, cronista
Membro da Academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP.


Nenhum comentário:

Postar um comentário