sábado, 12 de março de 2016

Crônica - Tempo meu, senhor de todos os ritmos -Manoel Messias Pereira


Tempo meu, senhor de todos os ritmos
A nossa vida consiste em sonhar, crer num sonho possível, fincado numa realidade, e buscar estabelecer metas pra atingir de fato esse sonho, que pode ser muito além do que podemos. Mas damos os passos possíveis para nossas pernas e outras vezes pulamos com consciência de nosso salto, mas sem saber a consequência de nossos atos.

Ainda garoto vi com a minha mãe e duas irmãs a necessidade de retirar-se de minha casa, pois um lar em que há uma ilustração de desrespeito, de agressões verbais ou físicas, com certeza não vejo um bom ambiente para crianças. E após minha irmã machucar o pé direito, quando brincávamos e chorar, vi também meu pai bêbado, ficar irado com o choro infantil e estabelecer verbos inadequados, para uma casa de pleno respeito. Vi a sala ficar corada e minha mãe pegar algumas peças de roupas velhas por numa sacola e entender que era hora de partir.

Partimos todos minha mãe  uma mulher negra com três crianças pequenas e assim precisamos contar com a ajuda de um tio que na sua adolescência, com minha irmã com o pé machucado e a outra negrinha de apenas dez meses, pela estrada de terra batida, numa paisagem de cerrado até chegar a casa de minha avó  materna.

Vi assim duas mulheres minha mãe, com apenas 25 ou vinte e seis anos e minha avó com cinquenta anos ambas, sem os seus maridos mas com um desafio, cuidar dos filhos, tendo como profissão apenas a força de trabalho braçal. ambas foram pra roça, quando tinham o que plantar e o que colher.
Ambas corriam para a cidade e levavam roupas para lavar e passar, quando não haviam trabalho no campo. A vida era dura para essas mulheres que tinham mãos calejadas e uma imensa ternura no olhar, a de ver cada um de nós, com uma roupinha no corpo e um chinelo no pé. Uma vez que calçado era algo difícil de imaginar, o preço era alto demais.

Meu sonho era sair desta condição de miserabilidade social. E isto significa, crescer, lutar, trabalhar, estudar, e manter um na minha vida e das pessoas que estavam comigo ou seja irmãos, tios, mãe e avó uma vida melhor.

A minha avó e a minha mãe trabalhavam, como feras e recebiam salários imensamente tristes quando comparados com a necessidade do que necessitávamos. O salário parecia esmola. E foi ali que descobri a filosofia de Karl Marx quando ele escreve que o dinheiro é a essência do trabalho e da existência humana. A essência domina-o e o ser humano adora-o. É o capitalismo gera o seu próprio coveiro. Pois há tanta publicidade para que você trabalha. Que muita gente que trabalhou e até morreu de doenças, ou foi vítima da estafa de tanto trabalhar. Que chega um tempo de dizer. Trabalhar é preciso, mas com certa cautela. Necessitamos viver como diria Paul Lafargue precisamos ter o direito a preguiça, precisamos de ser Cristão ao ponto de fazer o sermão da montanha. E com isto necessitamos sim ser poetas. E como afirmou Leon Trotsky, temos que ter a revolução pois ela trará o pão e a poesia.

Vovó coitada quantas vezes vi chorando ao pé de um crucifixo como quem desejavas falar com Deus. E seus olhos azulados cheios d'lagrimas deixava o rosto marcado com duas marcas d'aguas que como um pequeno rio que se perde na geografia da existência na luta de chegar até o mar se perdia secava. As lagrimas delas ficavam nas rugas também secava. Ela sonhava em ter um dinheirinho pra comprar uma Coca Cola no dia do Natal, no final do ano. Pois o seu salário era consumido como madeira num incêndio. Mamãe rezava, orava xingava, foi ela católica, pentecostal, predestinada a sofrer, com criança pequena, e um desafio sem casa, sem salário e sofrendo mutas vezes discriminações, encontrou-se seus orixás deparou com a religião. A busca de um criador. Entendeu o tempo como senhor de todos os ritmos, como a leitura da criação em que não é a consciência  do ser humano que determina o ser, mas ao contrário o ser que determina a sua consciência. Enquanto não se encontra ou se perde os cristão se apegam a religião e por isto ela acaba sendo o ópio do povo ou seja há pessoas que se adoece ou vicia neste contexto.

Como diz Karl Marx, é preciso sonhar, com as condições de crer e em nossos sonhos observar a nossa realidade, não o o idealismo de Feuerbach que pretendia trazer a religião do céu para a terra. e ao invés de Deus ter criado o homem à sua imagem e semelhança, foi o homem que criou Deus e neste caso o homem ser Deus para o homem. Mas isto que foi ensinado por Marx, fez ele rejeitar o pensamento do seu velho professor e superar aquela filosofia de sala de aula, rejeitando os valores do cristianismo estabelecendo leis do pensamento e a realidade a um só tempo, e isto é entender que o Tempo é o senhor de todos os ritmos, no seu contexto histórico que deixa a dialética dar pra realidade pras sua contradição com o pensar o materialismo histórico dialético.

Mas quando Friedrich Nietzsche  anuncia o sentido existencial dessa descoberta ele lamenta que a dialética tenha expulsada a música da tragédia. Ou seja vivemos essa guerra de luta de classe, e sinto isto desde a minha infância, nas dificuldades da existência, e hoje ainda luto nesta guerra. E encontro de outro lado ou seja na classe opressora neste contexto do capital os capitalistas aqueles que fabricam armas, munições, remédios, produtos alimentícios dietéticos e outros venenos e  que praticamente financiam governos e guerras. Guerras de ricos como diz Jean Paul Sartre, são sempre os pobres que morrem. E hoje vejo pelos canais de televisão que o mundo se ilustra de refugiados e de países que barram seres que estão fugindo destas ações capitalistas nefastas, desgraçadas imensamente desgraçadas.

Hoje o Brasil traz a ideia da privatização estatal como se fosse a ideia iluminista da existência, do pensamento liberal numa visão neoliberal o que faz lembrar o Bertold Brecht  quando ele escreveu "Privatizam a vida, sem trabalho, suas horas de amor e seus direitos de pensar. É a empresa privada a ser passo a a frente das empresa sem pão e sem salários, não contente  quer privatizar também o conhecimento, o pensamento só a humanidade pertence."

Por isto se fui ativista, e pensei na luta cotidiana de meus iguais, numa busca contra o preconceito, a discriminação, o racismo a intolerância religiosa, sonhando com a paz, discutindo nas alamedas, nas ruas nas avenidas, nos fóruns competentes ou na marginalização da existência, mas tendo a palavra bendita do respeito como uma baliza da existência. Recordo que a minha mãe sempre dizia depois d o portão seja cordial, seja verdadeiro, seja meu filho. Alguém vai dizer você teve uma família entenda uma mãe. E com isto sonhei com um mundo melhor e tentei lutar pra isto. Com os pés fincado numa realidade. Enquanto que em Descartes ele afirma que transformar  a realidade em hipótese possa ser um sonho, Sartre diz que o sonho não aparece como forma central, mas é uma passagem  interessante e  ele fala disto no seu diário de guerra ou seja o sonho é como  a forma existencial entre o mínimo intervalo entre o desejar e o realizar. Mas isto tudo resumo em coisa do Tempo o senhor de todos os ritmos em todas as fases.


Manoel Messias Pereira

poeta e cronista
Membro da academia de Letras do Brasil -ALB
São José do Rio Preto -SP. Brasil


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