Eu não entendo a poesia, se não compreender o poeta e eu não compreendo o poeta sem ler suas obras. A vida é como um poema e a poesia é viver.
Lendo o livro inicial do professor e poeta Antenor António Gonçalves, hoje um ilustre doutor e professor da Unesp, tive uma especial atenção num poema, escrito desta forma "Eu gostaria de fazer uma canção boba e cantar uma canção boba/ apoiando o rosto na mesa de um bar/.Todos os que passassem por mim diriam: - ali está um homem bobo/ que fez uma canção boba e nada mais. Ninguém - como sempre acontece perceberia atrás desta canção boba o silêncio forçado de muito amor".
Acredito que a poesia destas palavras artes, está "no silêncio com muito amor". Mas o próprio autor concluiu o poema na página seguinte "o amor deve ser assim: a chuva chega e chove, a gente não diz nada/ A plantinha verde nasce e a gente fica olhando/ O sol cai no horizonte, á noite, mistério, a gente não pensa. . .Um dia alguém vai embora pra longe, além /a gente chora/ E depois começa a sorrir por haver chorado/ o amor deve ser assim."
A verdade é que a poesia esta descoberta neste silêncio.
Lendo o poeta Paulo Leminski, o poema "arte do chá" ele escreve "ainda ontem convidei um amigo para ficar em silêncio comigo./Ele veio meio a esmo praticamente não disse nada/e ficou por isso mesmo.
A poesia de Leminski, também está no silencio, só que compartilhado por um amigo. Mas assim como Antenor, ele concluiu na página seguinte "Não há versos, tudo é prosa/ passos de luz/ num espelho/ versos ilusão de ótica, verde/ o sinal vermelho. Coisas feitas de brisas, de mágoas e calmaria dentro de um tal poema, qual a poesia pousaria?"
Na minha opinião, a resposta é a poesia que está presa e ao mesmo tempo solta no contexto do silêncio. Os autores primam pela convergência da reflexão da vida. No mesmo silêncio que uma gota de orvalho obedece ao pousar na pétala de uma rosa, e as vidas destes poetas estão nas explicitas palavras, que nos ensinam a entender o barulho do mundo, o movimento das máquinas, nos desempregos das fábricas e nós entendemos observando em silêncio.
Manoel Messias Pereira
Membro da Academia de Letras do Brasil - ALB
cronista
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